"Deolinda" na Casa da Música

Segunda-feira foi dia de estreias... Assisti ao concerto dos "Deolinda" (ou "da Deolinda", como os próprios se referem) na "Casa da Música" no Porto, o meu primeiro espectáculo no famoso "meteorito espacial" portuense. Tenho uma relação bipolar com a "Casa da Música"... Por um lado estamos a falar do maior símbolo de modernidade da cidade, que além de suprir algumas limitações culturais que a cidade possuía, consegue atrair diferentes tipos de visitantes : os amantes da música e os do "turismo cultural". Contudo, pelo menos na minha cabeça, a "Casa da Música" também personifica o que de pior há no nosso país: derrapagens orçamentais (orçada em € 33 milhões, custou € 111) e atrasos (prevista para abrir no "Porto 2001", foi inaugurada em 2005 e totalmente terminada em 2006). Felizmente a "Casa da Música" já deixou de ser a "vergonha da cidade" (digna de milhentas anedotas) e é, hoje em dia , um dos seus maiores símbolos...

O edifício, visto do exterior, é bastante imponente e, diria até, inesquecível! Contudo, à excepção do maravilhoso auditório ("Sala Suggia"), o interior não parece fazer jus a tanta fama arquitectónica... Aos inúmeros corredores, de recorte industrial/espacial, intercalam-se imperiosas salas ora forradas a berrantes azulejos ora a vidro. Aliás, as inúmeras vistas sobre a cidade (sempre o Porto...) são provavelmente o grande trunfo desta obra emblemática. Em termos funcionais, o edifício é de qualidade bastante discutível... Vejamos... Chega a ser confrangedor assistir à desorientação de tantas pessoas em tão pequeno espaço (eu incluído...), sem saber para que lado se devem dirigir ou onde ficam as portas do auditório... A circulação das pessoas, numa sala de espectáculos, não é suposto ser intuitiva? Ou é preciso ir lá muitas vezes até se decorar "o caminho"? Claro que todas estas dúvidas e curiosidades podem ser satisfeitas ao fazer-se a visita guiada pelo edifício, por apenas € 3 euros... É preciso uma explicação para a "apreensão do espaço"? Ou bastará olhar para as pessoas que nos rodeiam?
Em sentido contrário, à pseudo-intelectualice da "Casa da Música", caminha a música dos excelentes "Deolinda". Com eles tudo é simples e claro, sem deixar de ser terno e comovente! A simbiose entre o fado tradicional e a irreverência dos arranjos e interpretação (magnifíca Ana Bacalhau) é simplesmente perfeita! As músicas, que já conhecia previmente, ganham uma nova alma quando ouvidas "ao vivo". As pequenas histórias quotidianas que as precedem e "explicam," contadas pela vocalista, dão um novo significado ás canções! Resumindo... A banda toca muito bem e o concerto vale a pena! Fica a minha preferida: "Movimento Perpétuo Associativo". Portugal: Vende-se! ;)

Local: Casa da Música (Porto), Sala esgotada
Quand(t)o: 26/01/2009 ; 22h ; € 15