quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Sinistro #5 - João Rendeiro

Após a nacionalização do BPN (Banco Português de Negócios), eis que surge outro banco em dificuldades e a necessitar de intervenção estatal: o BPP (Banco Privado Português). Se no caso do BPN os motivos que conduziram à sua nacionalização (impedindo a insolvência da instituição) me pareceram bastante coerentes e acertados, o mesmo não acontece com o BPP. Aqui temos um banco: sem depositantes, sem balcões (não existindo postos de trabalho em perigo, portanto) e sem risco de influência nefasta no sistema (representa apenas 0,2% do crédito bancário total). Ainda que não se trate de uma nacionalização, a verdade é que o estado vai garantir, com o dinheiro dos contribuintes, 450 milhões de euros ao consórcio de bancos que se propõe a "emprestar" dinheiro ao BPP. Com garantias destas, até eu emprestava dinheiro aos "pobres e desfavorecidos" accionistas do BPP, nem que fosse para fazer "boa figura"... Porque há-de o Estado salvar um Banco só para salvaguardar os interesses e perdas dos accionistas, que arriscaram em jogar no Casino da Bolsa? Pior, o Governo ainda vem alegar que a intervenção se deve a uma questão da "imagem de Portugal no sistema bancário internacional"(!). É uma questão patriótica... "Ah bom, então tá bem!"

Claro que muito daquilo que estamos a viver e sofrer, é facilmente explicado por um episódio caricato, aparentemente menor mas bem ilustrativo, ocorrido à uns dias.... João Rendeiro (JR), presidente cessante do BPP, lançou o livro: "João Rendeiro - Testemunho de um Banqueiro". Na capa, João Rendeiro (o Luís Campos dos Bancos :p) aparece sorridente e secundado pela brilhante frase: "A história de quem venceu nos mercados". JR, cujo afastamento do BPP foi condição fundamental para o prosseguimento da intervenção estatal, não satisfeito com o facto de ter levado o Banco à falência, ainda tem o desplante e a "cara-de-pau" de vir apresentar uma dissertação sobre o "seu sucesso"... A data de apresentação do livro, estrategicamente colada ao Natal, estava já marcada algum tempo é certo, mas não será mau marketing lançar um livro sobre o "seu sucesso" precisamente no instante em que se leva um Banco à falência? A apresentação do livro, ao que consta, foi feita perante uma sala cheia... Isto ilustra a fraca qualidade da elite empresarial portuguesa, sobretudo quando o nosso "role model" é alguém que leva um Banco à falência!! Mais, no mesmo dia, JR confirmou as notícias que dizem que ele mantém o vínculo à FUNÇÃO PÚBLICA, em regime de licença sem vencimento por tempo indeterminado... JR, símbolo do sucesso empresarial português, autor de um eventual best seller natalício (devidamente adquirido pela nata empreendedora portuguesa), membro da classe liberal apologista do "menos Estado, porque o Estado só atrapalha" é afinal: FUNCIONÁRIO PÚBLICO... Perante uma realidade tenebrosa como a actual, como é que o POVO não há-de preferir falar do Benfica e dos frangos Quim? Ou será que a nossa realidade é fruto do alheamento do POVO? Ovo ou a galinha? Sinistro...

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