A peça da anunciada despedida de Ricardo Pais, director e encenador do Teatro Nacional São João (TNSJ), está envolta de uma grande polémica. As explosivas declarações que produziu, sobre a política cultural do actual Governo, são acompanhadas pela estreia de "O Mercador de Veneza", a obra de Shakespeare à muito tempo carimbada de anti-semita...
O mercador veneziano e cristão António, pede um empréstimo de três mil ducados ao judeu Shylock, destinados a auxiliar o amigo Bassânio a conquistar a sua amada Pórcia. Shylock acede ao pedido, com a condição da não liquidação da dívida ser paga com meio quilo de carne, retirada do corpo de António. Bom... Não é muito difícil de advinhar o que acontece, sendo que a disputa é discutida e resolvida no tribunal da cidade... O ódio que motiva Shylock a cobrar a dívida a António, é o mesmo que o espectador sente por este judeu pela sua intransigência e insensibilidade. Daí que quando Shylock é humilhado e transformado em vilão, trespassa pela sala uma constrangida e maldosa sensação de satisfação. Ora é aqui que a peça fica bastante ambígua, resultante do facto de os supostos "bons" (António e o espectador?) serem piores que o mau da história, com as devidas ilações para o plano politico-religioso actual (Holocausto e ocupação da Palestina).
Do ponto de vista formal, a peça acaba por ser também bastante interessante. A acção intensa e violenta do primeiro acto contrasta com o romantismo e humor da segunda, sendo que ambas se tocam num interessante twist narrativo, pouco visto na minha parca experiência teatral. Actores, som, luzes, ritmo impecáveis! Muito bom! A cultura do Porto está bem e recomenda-se... :)
Pontuação: * * * 3/5 - A não perder
Sessão: TNSJ, 08/11/2008, 21:30
Em cena: 07/11 - 23/11/2008 - "O Mercador de Veneza"
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